Poema do mar
O mar entra pela minha boca e cuspo seu sal.
Coloco-me dentro dele,
como um jeito de esperar passar.
Por que ainda que eu morra, sinto o doce,
alcanço a luz, freio os carros e tudo o que escolho.
E, por isso, colho aquilo que mergulho em maior ou menor intensidade.
Quando o cheiro do mar e o gosto de sal
aparecem feito surpesa,
A lembrança do que você era afogar-me.
Por que ainda que eu viva, sinto o amargo, perco a sombra e acelero o subir da maré,
Que ressoa, no céu da minha boca, uma voz que diz
“me aceita” -
Tive uma paixão platônica e durante vivi quase em premonição. Sempre, poucos minutos antes dele abrir a porta, eu sentia como se estivesse na praia. Tão real quanto chupar limão azedo era o gosto de água salgada na minha boca e o cheiro de brisa do mar.
E como toda a ilusão, eu fui arrastada, sem perceber, ao fundo do mar. O que descobri é que todo esse mundo sentimental é uma capacidade minha e nada tem a ver com o outro.
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